Trazemos então esta reflexão um trecho do livro Sobre Os Escritores (veja mais aqui e aqui de Elias Canetti.
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Arte: René Magritte |
"Em um mundo focado em desempenho
e especialização, que não enxerga senão os vértices que almejamos numa espécie
de limitação linear, um mundo que investe toda a força para atingir a solidão
fria dos vértices e que despreza e elimina o que é acessório, o que é múltiplo
e o que é essencial, que não se oferece para conquistar os vértices, em um
mundo que cada vez mais proíbe a transformação porque esta se contrapõe ao
propósito único da produção, que multiplica sem escrúpulos os meios para sua
autodestruição, simultaneamente tentando sufocar aquilo que ainda existe em
termos de qualidades humanas anteriormente adquiridas, neste mundo, que podemos
designar como o mais cego de todos os mundos, parece ser de cardeal importância
que existam pessoas que, apesar dele, continuem exercitando este dom da
transformação.
Esta penso, deveria ser a
verdadeira missão dos poetas. Graças a um dom que era coletivo e agora está
condenado à atrofia, mas que precisam de todas as formas tentar conservar, eles
deveriam manter abertos os canais entre as pessoas. Deveria ser capazes de se
transformar em qualquer pessoa, mesmo a menor, a mais ingênua, a mais
impotente. Seu prazer em reviver, dentro de si mesmos, as experiências dos
outros, jamais poderia ser determinada pelos meios dos quais consiste nossa
vida normal, por assim dizer, oficial. Este prazer deveria ser totalmente
isento da intenção de almejar êxito ou fama, deveria ser uma paixão em si:
justamente a paixão da transformação."
Elias Canetti, p.129, Sobre Os Escritores, Apresentação Ivo Barroso, Coleção Sabor Literário, JOSÉ OLYMPIO
Sejam todos bem vindos!
Um abraço poético!